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imagem: O DV Paulo praticando 'Arvorismo' acompanhado do guia Evandro. Alpen Park - Canela
RS - 04/03/2009
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ÍNDICE
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Dolci (2004) realizou pesquisa com foco em Turismo de Aventura nas
modalidades de Rafting e Corrida de Aventura. A pesquisa teve como objetivo
investigar o significado e as motivações que levam os indivíduos a optarem por
estas atividades turísticas.
Os desdobramentos utilizados para responder a indagação principal englobam
o perfil dos indivíduos que procuram estas modalidades de turismo como os
sentimentos e significados que são atribuídos pelos participantes das atividades
de
aventura. Para auxiliar na elucidação do problema, a autora procurou responder
algumas questões de pesquisa, são elas:
-
1) Qual o perfil dos usuários do turismo de aventura? Existem diferenças
relevantes entre o perfil dos turistas que optam por Rafting e Corrida de
Aventura?
-
2) Quais as expectativas dos turistas em relação aos resultados positivos e
negativos que a participação nas atividades podem proporcionar?
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3) Quais os motivos que os levam a procurar estes tipos de atividades?
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4) As experiências turísticas de aventura aportam benefícios aos usuários?
O estudo teve como objetivos identificar o perfil das pessoas que buscam
atividades de turismo de aventura; compreender os motivos pelos quais as pessoas
buscam estas atividades turísticas; verificar como os turistas se comportam
durante
a experiência turística de aventura; descrever os benefícios percebidos pelos
turistas
na vivência das atividades oferecidas.
No decorrer do estudo, a autora observou que pesquisar por que os indivíduos
procuram experiências turísticas de aventura e suas motivações é também um
estudo de comportamento humano. O método utilizado foi do tipo
exploratóriodescritivo,
caracterizando-se como uma pesquisa de corte qualitativo. A
investigadora utilizou à entrevista semiestruturada, a observação participante,
memoriais descritivos e a análise documental como instrumentos de coleta de
informações.
O relatório da pesquisa foi apresentado em 2004 no Programa de Pós-Graduação – Mestrado em Turismo da Universidade de Caxias do Sul. A
pesquisadora na interpretação dos resultados é enfática em apontar que o estudo
não tinha caráter conclusivo e que o Turismo de Aventura se apresenta como uma
atividade relativamente nova no nosso contexto cultura.
O produto da investigação foi sintetizado em quatro categorias de análise:
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Perfil
dos participantes (1);
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Contato com a natureza (2);
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Superação de desafios e busca
de
sensações difusas (3) e
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Sensações de prazer compartilhado em grupo (4).
Com relação ao perfil dos participantes, o estudo apontou que não há
possibilidade de generalização dos resultados, pois as informações levantadas
servem apenas de indicadores. Para delimitar o perfil dos participantes, a
autora
analisou informações referentes à idade, gênero, escolaridade, procedência e
participação em atividades de turismo de aventura. No quesito idade, a
pesquisadora verificou que tanto no grupo de Rafting quanto no grupo da corrida
de
aventura a média de idade variou entre 20 e 30 anos, sendo que na corrida de
aventura apenas um (1) participante tinha mais que 40 anos.
Quanto ao gênero, o feminino teve maior participação no Rafting. A autora
destacou que, nesta atividade a sociabilidade é fator importante. Quanto à
corrida de
aventura, a atividade em si exige que pelo menos um (1) integrante seja do
gênero
feminino. Portanto, nesta atividade, houve uma predominância de participantes do
gênero masculino. Quanto à escolaridade, o estudo apontou que a maior parte dos
participantes estavam na universidade, indicando um dos perfis daqueles que
optam
por este tipo de atividade.
Outro dado analisado foi a procedência dos participantes. O estudo apontou
que na modalidade Corrida de Aventura, em sua maioria, os participantes eram
oriundos da região da Serra Gaúcha, exceção de dois (2) participantes
procedentes
de Santa Catarina. Quanto à prática do Rafting, os participantes tinham
procedências diversas, ou seja, dos 36 participantes, apenas 16 eram do Rio
Grande do Sul, os demais tinham como estados de origem, Minas Gerais, Paraná,
Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Norte.
A outra categoria pesquisada para determinar o perfil dos participantes se
referiu à experiência do participante na prática da Corrida de Aventura. O
estudo
apontou que 11 participavam pela primeira vez e 20 já haviam tido experiências
anteriores na atividade. Na atividade de Rafting, dos 36 participantes, 21
haviam tido
a primeira experiência especificamente na modalidade Rafting, e 6 tiveram sua
primeira participação em Atividade de Aventura. Como conclusão, o estudo apontou
que modalidade Corrida de Aventura costuma ser uma atividade programada pelos
participantes. Quanto ao Rafting, os participantes, em sua maioria, são turistas
que
estão na cidade, tomam conhecimento destas atividades e optam em realizá-las.
Com relação ao contato com a natureza, o estudo apontou que, em sua ampla
maioria, os participantes citam que este tipo de atividade é uma possibilidade
da
fuga do cotidiano, uma possibilidade de fugir do estresse e renovar energias. A
autora também apontou que a natureza é percebida como terapêutica, podendo
proporcionar sensação de bem estar. Os participantes entendem que tanto o
Rafting
quanto a Corrida de Aventura propiciam o contato com a natureza, aspectos cada
vez mais relevantes quando a análise recai sobre o “habitat” que vive o homem
contemporâneo.
Com relação à superação de desafios e busca de sensações difusas, a
pesquisa apontou que as pessoas buscam nas atividades de aventuras superação
dos limites pessoais, o desafio como fator motivador, e a superação das
expectativas que os próprios participantes têm de si mesmos.
A pesquisadora relata que em um momento específico a situação enfrentada
foi maior que as habilidades do participante. Por conseqüência, estes aspectos
geraram frustração. Outra observação da autora se refere a dois depoimentos de
participantes de Rafting. Um deles disse que a atividade não se caracterizou
como
um desafio, por outro lado, outro participante considerou o Rafting como
extremamente estimulante e desafiador. O que comprova, segundo a autora, que as
concepções são extremamente subjetivas e variam de indivíduo para indivíduo.
Outro ponto que merece destaque foi o fato de que na maioria das falas dos
participantes, a expressão “ultrapassar limites” era constante, sendo o limite a
barreira que não se deve ultrapassar, a superação desta barreira por eles
representa
alguns sacrifícios, um esforço a mais do que o desprendido no cotidiano o que
potencializa a autoestima e a autogratificação.
Com relação às sensações de prazer compartilhado em grupo, a autora
apontou que, em relatos subliminares, a palavra “prazer” se faz presente
constantemente. Prazer no sentido de alegria, satisfação, sensação agradável,
divertimento com o grupo. Estas afirmações fazem parte dos discursos dos grupos
pesquisados já que a prática de Rafting e da Corrida de Aventura são
desenvolvidas
em grupo, diferente das modalidades praticadas pelos DVs que mesmo tendo em
comum o meio ambiente, são realizadas individualmente, isto significa que cada
participante depende unicamente de suas habilidades para realizá-las.
O estudo também apontou que na prática de Rafting há cumplicidade entre os
participantes dos grupos, através das manifestações de incentivo, de apoio e as
brincadeiras. Quanto ao comportamento do grupo de Corrida de Aventura, a
pesquisadora observou que a cooperação aconteceu desde os preparativos da
corrida, uma vez que esta prática ocorre em equipe. Quanto à satisfação, a
Corrida
de Aventura é uma atividade competitiva que segundo a pesquisadora deve ser
avaliada sob dois enfoques, o intragrupal e o intergrupal. Quando questionados
sobre suas expectativas, no final da corrida, muitos demonstravam o desejo de
chegar “em uma boa colocação”. A Corrida de Aventura é sob a ótica da autora uma
afinidade entre os participantes, onde eles se identificam com seus pares
formando
equipes. Finalmente a autora conclui que a atividade de aventura realizada em
grupo tem um forte elemento motivacional, de autoafirmação e pertencimento.
A autora verificou que as atividades realizadas pelos grupos distintos de
Rafitng e Corrida de Aventura permitem uma intensa comunhão com a natureza, que
é percebida de forma diferenciada proporcionando um sentimento de unidade e
respeito entre o corpo e o meio ambiente.
Algumas características em comum entre os participantes de turismo de
aventura foram observadas nas falas dos participantes, e foram agrupadas pela
pesquisadora como superação e crescimento.
Ao procurarem o turismo de aventura longe dos centros urbanos e da rotina
diária, os participantes querem bem mais do que o contato com a natureza, como
pode ser verificado em seus discursos onde expressaram vontade de suprir
carências com o resgate de energia, paz e compartilhamento da experiência com os
amigos.
Os turistas diante do desafio de estarem longe de seus habitats naturais
sentem-se desafiados em testar suas capacidades de adaptação, de decisão, de
realizar suas conquistas explorando suas potencialidades, contestando ou
reafirmando a imagem de suas personalidades que seus grupos de convivência
cotidiana já têm pré-estabelecidas sobre cada um deles. Nas considerações finais
do estudo Dolci (2004) afirma que, no espaço de aventura, o indivíduo se lança
num
duplo processo de busca, por um lado, explora a natureza repleta de surpresas,
por
outro, se encaminha na direção de satisfazer a si mesmo, confortando seu mundo
interior. Turismo de Aventura, a pesquisadora diz que na conquista do objetivo,
a
pessoa precisa vencer medos. O sujeito precisa ter coragem, audácia, ousadia,
criatividade, flexibilidade e o espírito solidário para encarar e superar os
obstáculos
com os quais se depara nas experiências.
O estudo realizado por Dolci (2004) teve como participantes pessoas videntes.
Não havia entre os sujeitos por ela pesquisados portadores de deficiência
visual.
Todavia, as atividades de aventura que foram estudadas com deficientes visuais
não
necessitaram de nenhum tipo de adaptação pelo fato dos participantes serem
deficientes visuais.
O objetivo de discutir o conhecimento produzido pela pesquisa de Dolci não foi
para fazer comparações de seu estudo com os deficientes visuais que se
submeteram às modalidades individuais de Turismo de Aventura (Arvorismo,
Escalada, Tirolesa e Rapel), uma vez que ela estudou as modalidades coletivas
como Rafting e Corrida de Aventura, mas serviu para ampliar a discussão sobre
uma
temática ainda pouco explorada do ponto de vista científico.
Esportes na natureza e deficiência visual: uma abordagem pedagógica
Munster (2004) realizou uma pesquisa com o objetivo de discutir a pedagogia
dos esportes da natureza e os principais aspectos envolvidos em sua prática,
analisando as contribuições num programa de Educação Física para pessoas com
deficiência visual. A relevância da pesquisa está na população alvo e nas
atividades
realizadas na natureza que muito se assemelham ao objeto de estudo – Turismo de
Aventura.
O estudo de Munster (2004) teve como propósito discutir a pedagogia dos
Esportes na Natureza e os principais aspectos envolvidos em sua prática,
analisando a contribuição dos mesmos num programa de Atividade Motora para
pessoas com deficiência visual. O objetivo da pesquisadora com o estudo foi
refletir sobre o fenômeno “esportes na natureza”, ressaltando sua evolução,
principais
características e modalidades, e tecer algumas considerações relativas à
terminologia utilizada (1); descrever adaptações necessárias e cuidados
metodológicos específicos na aplicação de técnicas referentes às modalidades
previstas no programa da pesquisa (2); observar desdobramentos das práticas e
vivências propostas no repertório motor das pessoas com cegueira ou baixa visão
envolvidas na amostra da pesquisa (3); coletar depoimentos que reflitam a
importância dessas atividades na inclusão social dos deficientes visuais (4).
Ao refletir sobre o fenômeno “Esporte na Natureza” e os principais aspectos
envolvidos em uma prática pedagógica voltada a pessoas com deficiência visual, a
pesquisadora levantou algumas indagações como: O que se entende por "Esporte
na Natureza”? Quais são as dimensões sociais e características envolvidas nessa
prática? Quais as possíveis contribuições das referidas práticas para a pessoa
com
deficiência visual? Como tais modalidades podem ser significativas e/ou atribuir
significado à vida de pessoas com deficiência? É possível visualizar
perspectivas de
atuação profissional envolvendo Esportes na Natureza e as diferentes áreas
dentro
da Educação Física?
Foi a partir destes questionamentos que a pesquisadora construiu a trilha que
lhe permitiu estudar o Esporte da Natureza relacionado com a prática dos
deficientes
visuais e Educação Física. O estudo foi realizado a partir do princípio de que o
Esporte na Natureza envolve desafio, e que as pessoas cegas ou com baixa visão
têm o direito de decidir se querem enfrentá-lo ou não. Se envolver risco, devem
ser
tomados cuidados especiais com a segurança, não específicos por se tratar de
pessoas que não enxergam ou enxergam pouco, mas por envolver seres humanos
acima de quaisquer condições. Se o esporte contemplar objetivos de formação
humana, deve envolver tratamento pedagógico e educativo que o diferencie de
práticas esportivizadas e possibilite o crescimento pessoal, independentemente
das
características pessoais. Se pretender a participação, deve favorecer as
relações
inter/intrapessoais e sociais, independentemente da condição do ser humano.
Munster (2004) nas considerações finais de seu estudo destaca a confiança no
potencial das pessoas com deficiência visual e em sua capacidade de realização
como estímulo para o desenvolvimento do programa de Esportes na Natureza. A
concepção de deficiência apresentada no seu estudo pautou-se, não pela
limitação,
comprometimento ou falta de funcionalidade do órgão visual, mas pelas
possibilidades de adaptação e superação demonstrada por pessoas que se
encontram nessa condição. Disse a pesquisadora que não é preciso ser atleta ou
possuir talentos especiais para vivenciar Esportes na Natureza. A sua prática,
quando realizada segundo os princípios pedagógicos e normas básicas de
segurança, pode ser acessível a pessoas com deficiência visual.
Outro aspecto conclusivo do estudo é que os sujeitos participantes da
pesquisa, o conteúdo, as estratégias de ensino, os exercícios educativos
referentes
ao ensino das modalidades selecionadas atenderam às necessidades educacionais
especiais de pessoas com deficiência visual, pois permitiram a antecipação e
contorno das dificuldades que seriam encontradas no meio natural. Na opinião dos
entrevistados, o tempo de preparação que antecedeu as saídas a campo também foi
considerado satisfatório. As preferências e dificuldades associadas às
modalidades
vivenciadas decorreram, não apenas da exigência técnica das modalidades, como
também do grau de satisfação proporcionado, conforme as características
individuais dos participantes. Munster (2004) é enfática ao dizer que o fato
reforçou
a necessidade de diversificação de conteúdos em um programa de Esportes na
Natureza. Como síntese dos desdobramentos do programa de Esportes na Natureza
vivenciada pelas pessoas com deficiência visual, estudado pela autora da
pesquisa,
permitiu-lhe inferir que:
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1) O meio natural onde se desenvolveram os Esportes na Natureza consistiu
em um ambiente rico em estímulos sensoriais, despertando sensações físicas e
emoções intensificadas pelo contato com os elementos da natureza. A diversidade
de informações táteis, sinestésicas, auditivas e olfativas, provenientes do meio
ambiente, proporcionou referências significativas às pessoas com deficiência
visual;
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2) Frente à imprevisibilidade do ambiente natural, a prática de Esportes na
Natureza requer constantes ajustes da lógica interna do praticante às condições
do
meio. O processo de adaptação motora a situações inusitadas implicou em maior
exigência das capacidades e habilidades físicas do indivíduo, o que consistiu em
significativas contribuições ao repertório motor e possibilidades de ampliação
do
domínio corporal. Tal fato implicou em benefícios para o desenvolvimento motor
da
pessoa com deficiência visual, sobretudo nos aspectos relacionados ao
equilíbrio,
locomoção e orientação espacial;
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3) A oportunidade de convivência durante a prática dos Esportes na Natureza
consistiu em um importante estímulo para o desenvolvimento das habilidades de
relacionamento social. As situações vivenciadas em conjunto potencializaram as
relações interpessoais, acentuadas pelo espírito de equipe e companheirismo. A
qualidade da troca de experiências que surgiu nas interações com o grupo
forneceu
alguns elementos que contribuíram, inclusive, no processo de adaptação à recente
condição de deficiência visual de alguns dos participantes;
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4) O desafio implícito na vivência de Esportes na Natureza proporcionou
autoconhecimento acerca dos limites e possibilidades individuais, predispondo o
praticante a modificações internas. O enfrentamento de adversidades inerentes a
tais práticas conduziu ao sentimento de autossuperação e autorrealização,
propiciando transformações nas relações intrapessoais, que puderam ser
estendidas
à vida cotidiana de algumas das pessoas com deficiência visual envolvidas nessa
pesquisa;
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5) O acesso à prática desses esportes consistiu em oportunidades de sair da
rotina e diversificar as atividades do dia-a-dia. Os momentos de prazer e
descontração vivenciados por meio de tais modalidades passaram a compor novas
possibilidades de usufruto do tempo livre, ampliando as opções de lazer de
pessoas
com deficiência visual;
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6) Quando a interação com o meio ambiente é adequadamente orientada, o
contato com a natureza pode constituir oportunidades de aprendizagem e estudo do
meio que, gradativamente, transformam-se em sentimento de aproximação e
revertem-se em respeito e responsabilidade pelo meio ambiente;
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7) A visitação à natureza, sobretudo nas etapas de viagens e saídas a campo,
favoreceu um intercâmbio cultural: às pessoas com deficiência visual foi
proporcionado o acesso a diversos lugares, interação com pessoas de comunidades
diferenciadas e contato com costumes típicos; as várias pessoas e grupos sociais
que deram suporte à realização dessa pesquisa também tiveram oportunidade de
conviver com as pessoas portadoras de deficiência visual e rever seus conceitos
e
valores com relação a essa questão.
A reflexão significativa do estudo de Munster é que as atividades estudadas por
ela, denominadas de Esporte na Natureza desde a perspectiva da Educação Física,
em nada se diferenciam daquelas oferecidas no Turismo de Aventura, descritas
como atividades de aventura a partir da perspectiva do Turismo.
O objeto de estudo é Turismo de Aventura nas modalidades Arvorismo,
Escalada, Rapel e Tirolesa. O sujeito de estudo são os portadores de deficiência
visual congênita ou adquiridas participantes da pesquisa. A pesquisa é de corte
qualitativo cujo interesse foi estudar a percepção dos deficientes visuais na
prática
do Turismo de Aventura.
O desenho adotado foi a metodologia descritiva do tipo “estudo de caso” como
opção e estratégia de investigação. Os participantes do estudo foram
selecionados a
partir do critério que segue. Como o turismo é decorrente de ação voluntária, a
pesquisadora ofereceu através da Associação de Deficientes Visuais de Bento
Gonçalves/RS, um pacote turístico de Turismo de Aventura no Alpen Park de
Canela/RS, para 230 associados. Como procedimento, não foi informado se o
pacote turístico teria custo aos participantes. Deste oferecimento, sete foram
os
deficientes visuais interessados em participar do Turismo de Aventura.
Dos sete participantes adultos, seis são do gênero masculino e um do gênero
feminino e apresentam o seguinte perfil:
-
a) Portadores de deficiência visual;
-
b) Voluntários para participar da prática de Turismo de Aventura;
-
c) Cinco participantes já haviam realizado atividades de Turismo de Aventura;
-
d) Dois participantes realizaram pela primeira vez atividades de Turismo de
Aventura por ocasião da experiência empírica;
-
e) Idade mínima de 31 anos e máxima 74 anos de idade.
[...]
Nesse segmento do estudo, apresenta-se a descrição das atividades e os
equipamentos de segurança nas práticas de Arvorismo, Escalada, Rapel e Tirolesa,
independente se o praticante é portador ou não de algum tipo de deficiência. As
explicações que seguem são para destacar que nas modalidades do turismo de
aventura, foco do estudo com os deficientes visuais, os equipamentos de
segurança
não foram adaptados face à clientela ser de deficientes visuais, sendo cuidados
característicos deste tipo de atividade.
A prática do turismo de aventura requer a utilização de equipamentos de
segurança. Munster (2004) tiveram a preocupação de detalhar os equipamentos
necessários a este tipo de prática. Descrevem-se a seguir os equipamentos de
segurança que foram utilizados pelos deficientes visuais, participantes da
pesquisa.
a) Corda: Possui estrutura comum constituída por um feixe interno de
filamentos (denominado alma), revestido por um conjunto de fios
trançados (denominado capa) que lhe confere proteção contra o atrito. O
tipo de corda utilizada para o rappel e a Escalada pode variar conforme a
modalidade praticada. A corda utilizada na Escalada em rocha, deve ser
uma corda com propriedade elástica, capaz de absorver e amortecer o
impacto em caso de queda. Já a corda utilizada no Rapel deve possuir
uma elasticidade menor, desenvolvendo um menor alongamento sob
tração;
b) Fitas: São tiras de nylon ou poliamida com aproximadamente 25 mm de
largura e comprimento variado, usualmente costurado ou atado como
anéis. As fitas tubulares são mais resistentes e amplamente utilizadas em
ancoragens, paradas ou como peças indispensáveis do equipamento de
segurança, constituindo a fita solteira ou auto seguro;
c) Capacete: É feito de plástico injetado e forrado com espuma para
absorção dos impactos. Possui regulagem interna e pontos de ajuste e
fixação jugular;
d) Cadeirinha: A cadeirinha é composta por uma única fita que passa pelas
costas e contorna a base das coxas do praticante, sendo provida de dois
pontos de fixação a um anel metálico;
e) Mosquetões: São peças feitas de alumínio ou aço de diferentes formatos,
com abertura em uma de suas hastes, denominada gatilho, dispondo ou
não de mecanismo de trava associado. São utilizados em ancoragens,
para acoplar o freio e demais equipamentos à cadeirinha e na extremidade
da fita tubular utilizada como solteira ou autosseguro;
f) Freios: São peças feitas de alumínio ou aço de diferentes formatos na qual
passam as cordas ou fitas, sendo que a frenagem é controlada pelo
participante na forma de pegada das mãos. Entre os tipos de freios mais
utilizados no rappel, destacam-se o Oito.
Machado (2005) descreve que a prática de Arvorismo é feita em trilhas
suspensas interligando as copas das árvores com diversos níveis de dificuldade a
serem vencidas pelos praticantes. A fim de garantir a segurança, o participante
permanece preso ao cabo de segurança suspenso durante toda a atividade. Para
este autor, são necessários os seguintes equipamentos: capacete, cadeirinha,
cabo
solteiro ou de alta segurança, que podem ser feitos de fitas tubulares ou
cordas.
No local onde as atividades com os DVs foram realizadas, o percurso é
composto por oito (8) trilhas com diferentes graus de dificuldades perfazendo um
total de 100 metros de comprimento e a uma altura de 30 metros.
A prática do Arvorismo com videntes segue a seguinte rotina: o participante
recebe as informações preliminares e se dirige até a área de treinamento onde
veste
os equipamentos de segurança e logo iniciam a atividade. Com o grupo de DVs,
logo após as informações preliminares dos instrutores, o grupo foi acompanhado
até
a área de treinamento do Arvorismo onde os participantes foram auxiliados para
vestirem o equipamento de segurança composto por: capacete; cadeirinha e
mosquetão e cabo solteiro.
Considerando o grupo de DVs, a operadora destacou guias individuais. Esta
providência foi tomada pelo fato de que até aquela data a operadora ainda não
havia
tido deficientes visuais praticando Arvorismo. Logo, a experiência com a
clientela era
inovadora, e como tal, decidiram se cercar de outras formas de segurança para
garantir um resultado positivo, conforme afirmou Evandro, um dos proprietários
da
operadora. Os DVs depois de devidamente equipados passaram pelo processo de
treinamento que não difere do aplicado aos videntes.
A área de treinamento é composta por três postes alinhados, com uma
distância de 2 metros entre cada um. Na parte superior é preso um cabo de aço
que
simula o cabo de segurança, nele está instalado o vagão (peça de aço que desliza
pelo cabo de segurança) que atravessa um trilho localizado nas curvas de chegada
de cada plataforma onde acontece a mudança de pista.
No vagão fica preso o mosquetão, que é preso ao cabo solteiro e este à
cadeirinha. Esta etapa foi descrita em detalhes aos Dvs que depois treinaram a
articulação do vagão.
Para os videntes, apenas a apresentação e comentários superficiais são
suficientes para a compreensão na execução da atividade. No caso dos Dvs, a
descrição verbal detalhada foi importante para elucidar possíveis dúvidas e
apreensão dos participantes.
De acordo com Juliana, uma DV, participante do estudo, a forma com que
foram passadas as informações pelos guias e a demonstração dos equipamentos
individualmente, fazendo-a tocar em todos eles, deu-lhe uma dimensão maior de
como a atividade acontece. De resto, disse a depoente: “basta uma mente aberta e
vontade de superar desafios”.
Durante a fase de treinamento com os DVs, a pesquisadora questionava os
participantes sobre suas expectativas para a atividade proposta. As respostas
foram
as mais variadas, houve quem se declarou ansioso, outro disse que estava
apreensivo, outro cauteloso, mas que depois do treinamento se sentia mais
confiante e seguro. O participante João, o mais velho, com 74 anos de idade e
que é
muito espirituoso, fez o seguinte comentário: “A cegolândia está aqui em peso
para
mostrar aos videntes que nós somos capazes de fazer o que muitos não têm
coragem”.
Importante ressaltar que o participante João é portador de cegueira adquirida, o
que poderia de certa forma, ser um fator impeditivo para a prática de Arvorismo,
uma
vez que por ter sido vidente algum dia, tinha a noção de altura e dimensionaria
a
experiência pela qual estaria se submetendo.
Outros participantes que já haviam praticado outras atividades de aventura
como a Juliana, portadora de deficiência visual congênita e o participante
Mauro,
portador de deficiência visual adquirida se manifestaram com tranqüilidade,
apesar
de que era a primeira vez que estavam praticando o Arvorismo.
Todos os participantes do grupo de DV realizaram a atividade de Arvorismo até
o final. O que nem sempre acontece com pessoas videntes. Alguns
videntes costumam desistir durante a realização do percurso.
O participante Everaldo, portador de deficiência visual adquirida, disse que ao
iniciar a prática do Arvorismo, a sensação foi de expectativa, atenção e cuidado
a
todas as dicas que os instrutores passaram. Mas com o desenrolar da atividade,
disse que adquiriu segurança e sentiu um bem estar que foi lhe tomando conta.
No decorrer da atividade, a pesquisadora não observou nenhuma manifestação
ou reação distinta por parte de nenhum participante do grupo, embora uns fossem
portadores de deficiência visual congênita e outros de deficiência visual
adquirida.
Na opinião de PAPP (1998) apud MUSTER (2004), a prática da Escalada
também pode ser realizada em estruturas artificiais como ginásios, academias e
parques com diferentes graus de dificuldades, visando reproduzir ou simular as
condições naturais de Escalada em um ambiente doméstico. O equipamento
necessário para essa prática é: capacete, cadeirinha, mosquetão, cabo solteiro e
cordas.
A Escalada realizada de forma cotidiana por videntes, no local onde foi
realizada a pesquisa, consiste em escalar uma parede artificial de oito (8)
metros
apoiando-se em agarras (blocos de resina) que simulam a rocha.
Na realização da Escalada pelo grupo de Dvs, o guia de aventura percebeu a
necessidade de detalhar a constituição da parede de Escalada para que os DVs
percebessem e formassem a imagem mental do objeto. O que não é necessário se
fazer com videntes.
Com os DVs foram feitas algumas adaptações como descrever a atividade. Por
ocasiões da experiência de campo o instrutor disse aos DVs: “esta parede é
construída em chapas de MDF e fixada no chão através de cabos de aço. Ela tem a
altura de 8 metros que simula uma parede rochosa, na qual estão em parafusadas
as agarras que simulam pedras onde os escaladores videntes devem utilizá-las
como apoio, simulando degraus de escada para apoio dos pés e das mãos como
forma de ascendente até o topo.
A partir do momento, a orientação para a execução da atividade de Escalada
foi igual a que é repassada aos videntes. Foi dito que os equipamentos de
segurança seriam o cabo solteiro que estaria preso à corda de segurança, sendo
que esta corda de segurança estaria sendo controlada pelo guia em terra para
garantir que se em algum momento da Escalada o escalador escorregasse ou
desistisse, ele estaria seguro pelo cabo e consequentemente pelo guia.
Neste momento houve desinteresse de alguns participantes, segundo eles o
esforço para ascensão ao topo seria muito grande. Do grupo de 7(sete)
integrantes,
apenas 3 demonstraram interesse em realizar a Escalada. Dos três participantes
que realizaram a Escalada, dois eram portadores de DV adquirida e já haviam
participado de atividades de aventura e um era portador de DV congênita e nunca
havia participado de atividades de aventura. Dos três, apenas um chegou ao topo
da
parede. Foi um DV adquirido e nunca havia praticado atividades de aventura, os
outros dois desistiram no meio do percurso. O fato da desistência não deve ser
relacionado com a deficiência, mas a dificuldade da atividade em si.
O participante João, que foi o único que atingiu o alto do topo e cumpriu a
tarefa, disse o seguinte: “mas que saudades que eu tinha disso,
quando
eu era guri nós fazíamos muito isso no exército.” Na verdade, a atividade
realizada
por ele naquele momento lhe reportou a situações prazerosas vivenciadas no
período que esteve servindo o exército nacional.
Machado (2005) define o Rapel como uma técnica de montanhismo que
consiste em descer, de forma controlada, paredes rochosas utilizando-se de
cordas,
freios, cadeirinha, mosquetão, capacete. No caso da atividade realizada no Alpen
Park, na cidade de Canela, a estrutura é artificial, e consiste em uma torre de
15
metros de altura com uma plataforma no topo onde começa a descida.
Os Dvs que não participaram da prática da Escalada demonstraram interesse
pelo Rapel. Foi possível perceber que estavam completamente à vontade,
integrados ao grupo de guias que lhes orientavam e familiarizados com o local.
Demonstravam segurança, não só nos guias, mas em si mesmos no momento de
executar as atividades. Todos os participantes do grupo de DV realizaram a
atividade.
Para que fosse possível o início da prática de Rapel, 2 guias subiram ao topo
da torre para preparar a ancoragem (amarração) das cordas e aguardar os
participantes. Simultaneamente, na base da torre, dois instrutores se
encarregavam
de descrever o local para os participantes da pesquisa. Esta tarefa
foi
necessária da mesma forma que na atividade de Escalada, que serviu para os DVs
formar imagem mental do trajeto, do deslocamento e dos objetos. Esta tarefa não
é
necessária quando a atividade é realizada com videntes, portanto se constitui em
adequações feitas uma vez que os participantes eram portadores de deficiência
visual.
Cada DV antes de subir ao topo recebeu treinamento de como deveria
proceder com relação à frenagem da corda de segurança, ao longo da descida. Deviam segurar a corda nas costas e a ação de ir soltando a corda
pausadamente permitiria seu deslocamento para baixo. Em seguida um a um foi
acompanhado até o topo da torre e iniciaram o procedimento de descida.
A participante Juliana, após realizar a atividade, disse: “o que eu mais gosto é
o Rapel, porque traz sensação de leveza e liberdade, assim como a Tirolesa por
proporcionar essas mesmas sensações em dobro. É um desafio constante, é uma
superação, pois não sabemos o que vem pela frente, é sempre um caminho novo a
percorrer”.
As observações seletivas da pesquisadora por ocasião da prática de Rapel
evidenciaram a preocupação redobrada que os instrutores tiveram para garantir a
saúde física dos deficientes visuais participantes do estudo, como também dar
informações precisas para que se sentissem confiantes.
De acordo com Machado (2005), a Tirolesa consiste na travessia suspensa
em cabos fixados em dois extremos. As transposições podem ser feitas com uso de
um mosquetão e uma roldana, presos ao cabo solteiro e conectado à cadeirinha. Os
equipamentos são: capacete, cadeirinha, fitas, mosquetão, corda ou cabo de aço e
roldana.
A prática da Tirolesa com os DVs ocorreu após a prática do Arvorismo,
despertando uma grande motivação e interesse por parte dos participantes se
comparada com as outras 3 práticas de aventura, e foi a atividade que menos
houve
necessidade de descrições por parte dos instrutores. Todos os participantes do
grupo de DV realizaram a atividade.
Os DVs ficavam posicionados um a um na plataforma de saída no topo de
uma árvore a 50 metros de altura. A prática consistia em serem lançados presos a
um cabo guia e um de segurança, pelo cabo solteiro, por um percurso de 200
metros
sobre um vale e retornam por outra Tirolesa de 120 metros de comprimento a 40
metros de altura para voltar ao ponto inicial.
Foi esclarecido que no final da primeira etapa e da segunda, um sistema de
freio instalado no final dos percursos reduziria a velocidade até a parada
completa e
também que haveria um guia à espera deles para acompanhá-los até o próximo
ponto.
A participante Juliana questionou como poderia saber quanto seria o tempo
de duração do percurso. O guia Márcio sugeriu que ele fosse o primeiro
participante
a fazer o percurso e que começaria a gritar logo no início e só pararia quando
chegasse ao final. Procedendo desta forma, os outros DVs perceberiam
a extensão da Tirolesa. Tal procedimento foi adotado, o que serviu de
referências
aos demais deficientes visuais praticantes da prática de Tirolesa.
A atividade da Tirolesa transcorreu nas mesmas condições que ocorrem
com as pessoas videntes, não necessitando de adaptações. Antes de realizarem a
atividade, a pesquisadora indagou: Vocês pensam que há alguma dificuldade para
realizar a atividade? De forma unânime responderam que não haveria nenhuma
dificuldade e que estavam ansiosos. As expectativas eram positivas e variadas.
Após a realização da atividade foi possível observar que os DVs estavam
eufóricos. Era evidente a satisfação. A alegria se fazia presente em
seus
rostos. Paulo disse: “sempre dá um frio na barriga, mas a emoção é super e o
sentimento que fica é o de superação e de vencer barreiras”.
Com o propósito de ter mais elementos para discutir e interpretar as
informações produzidas pela pesquisa, reuniram-se as informações em duas
grandes categorias, por um lado as expectativas dos deficientes visuais frente
às
práticas de aventura vivenciadas, por outro, as preferências, aspectos sociais e
as
dificuldades decorrentes das práticas de aventura vivenciadas pelos
participantes da
pesquisa.
Os participantes foram entrevistados pela pesquisadora, que indagou o que
os havia levado a praticar “turismo de aventura” e as expectativas que tinham
com a
prática.
Everaldo (DV adquirido) disse: O que me levou a praticar turismo de
aventura foi a vontade de ter um maior conhecimento em relação a este tipo de
atividade esportiva e a superação de novos desafios. A expectativa inicial era
curiosidade e medo. De um lado, o entrevistado buscava superar-se ao realizar a
atividade mesmo sendo portador da deficiência, por outro, angústia gerada pelo
preconceito que tinha em relação ao esporte de aventura. Depois de realizar a
atividade, tomou consciência da segurança que a prática desta atividade oferece.
Bruno (DV adquirido) respondeu ao mesmo questionamento dizendo que as
expectativas eram as dúvidas em relação ao perigo que correria. Mas disse que
após a realização das atividades teve uma sensação de vitória e sentiu o sabor
de
ter superado algo. Argumentou que o sabor de superação para o DV que não
enxerga, é um valor indescritível com palavras, face ao sentimento de ter
enfrentado
a altura, a velocidade, a sensação de perigo e muito mais. Quanto à decisão de
praticar o turismo de aventura, foi enfático em dizer que tinha confiança nos
instrutores e equipamentos.
Mauro (DV adquirido), antes de responder aos questionamentos, disse: “não
é a primeira vez que participo de atividades de aventura, fiz porque faz bem
para o
ego e para o espírito, e a minha expectativa é a de vencer barreiras e acabar
com o
preconceito de que o deficiente é incapaz”.
Os depoimentos apresentam uma convergência significativa que é a
necessidade de o portador de Deficiência Visual ter de vencer barreiras para
mostrar-se uma pessoa capaz de aprender e de superar desafios e preconceitos que
ainda existem frente às deficiências. Este aspecto foi bem destacado pelos
participantes praticantes de turismo de aventura.
Os participantes, quando questionados sobre as possibilidades das
experiências vivenciadas, promoveram modificações na sua forma de encarar a
vida. Deles obtiveram-se as seguintes respostas: para o Everaldo, a experiência
elevou sua auto-estima, a autoconfiança, já que permitiu refletir que pode
vencer
barreiras da vida, que quando encaradas elas se tornam menores. Concluiu que a
prática do esporte de aventura é muito mais prazerosa e segura do que pensava,
permitindo que ele se sentisse mais feliz, mais integrado e atuante no meio
social.
Bruno fez o seguinte comentário: “quando cheguei a casa tomei consciência
que aquele teria sido um dos dias mais importantes da minha vida, nem quando
enxergava passei por tais experiências”. Disse ainda o participante: “Talvez se
enxergasse teria mais medo de encarar. Depois desta linda e desafiadora
experiência, me sinto mais capaz diante dos obstáculos. Ficou muito evidente
minha
autoconfiança. Isto tudo me abriu um horizonte de possibilidades até então não
pensada por mim. Indico e recomendo para os amigos e quero me tornar um
praticante.
Egídio deu um depoimento “sui generis” ao afirmar o seguinte: “me sinto
como se enxergasse de novo, pois a adrenalina é muito grande, ao final das
atividades me senti muito bem comigo mesmo. A Autoestima aumentou muito. Só
tenho a agradecer a estas pessoas que proporcionam esta experiência a um
deficiente como eu!”.
João ao falar de sua experiência e suas expectativas relatou: “O que eu
conhecia era o que havia praticado no exército. Nós fazíamos como treinamento,
mas não sabia que a gurizada estava fazendo isso para se divertir. Fiquei um
pouco
preocupado, é que quando falaram da altura, eu como já um dia enxerguei, entendi
o que estavam dizendo. É bem alto mesmo, mas a gente tem que ter coragem, não
tive muito medo, só preocupação. A gurizada explicou como nós estaríamos seguros
e eu confiei neles”. E depois? “Bah! Maravilhoso que sensação gostosa na
Tirolesa
o vento batendo no rosto, aquele cheirinho de mato úmido e molhado. Tinha que
fazer de novo para poder sentir melhor, é muito rápido.”
E o Arvorismo, pergunta a entrevistadora? Ele responde: É muito
interessante, quando você está começando a aprender uma trilha já muda para
outra. É uma surpresa atrás da outra, dá até para perceber os passarinhos
passando perto da gente, disse o entrevistado. Mas na prática da Escalada quase
que desisti, como eu não enxergo, tinha que ficar tateando, procurando onde
estavam as “pedras” (agarras). E você sabe, a gente não é mais guri né, e fica
cansado, mas tu viu não é? “O veio aqui bateu muito guri novo, fui o único que
bati o
sino. Você filmou?” E arrematou dizendo: “Antes eu tinha medo de bater num
poste,
de me machucar na rua. Agora eu bato no poste, derrubo um orelhão e vou
embora”.
Mauro opinou que apesar da deficiência visual ser uma constante em suas
vidas, acreditava que sempre serão capazes de superar novos desafios. Com base
nos depoimentos aqui transcritos se pode inferir que o cego à medida que vai
adquirindo autoconfiança, perde progressivamente o medo de se exteriorizar
corporalmente, retração que ocorre com aqueles que são acometidos de cegueira.
Dentre as quatro experiências de prática de aventura as quais foram
submetidos os portadores de Deficiência Visual, foi possível constatar que houve
um
consenso ao elegerem o Arvorismo e a Tirolesa como as práticas mais
interessantes.
Everaldo opinou que as duas práticas provocaram a produção de adrenalina
na medida certa para o seu gosto. Bruno comentou que sua preferência pelo
Arvorismo e a Tirolesa de deu pelo fato de ser um desafio de resistência e
equilíbrio
corporal.
A prática do turismo de aventura fez com que os deficientes visuais
participantes do estudo ampliassem suas percepções sobre outras questões. Por
exemplo, Bruno relatou o seguinte: “percebi a curiosidade das pessoas pelo
turismo
de aventura, e o comentário que ouvia das pessoas era de que se ele (cego) pode,
eu também posso”. Isto demonstra que a ansiedade desencadeada pelos videntes,
não é diferente daquelas que os cegos sentiram antes das práticas de aventura.
João fez questão de destacar o seguinte: “Me senti importante, tinha assunto
a mais para contar. Falar coisas diferentes que muita gente que enxerga não tem
coragem de fazer”.
Para Juliana que declarou que não tem dificuldades de fazer amizades, as
atividades de aventura, fizeram com que tivesse que ouvir, encorajar e dar força
uns
aos outros e confiar no grupo de instrutores. Everaldo, disse que do ponto de
vista
social houve um ganho nas relações com as outras pessoas, sejam DVs ou
videntes, pois acredita que aumentaram as relações interpessoais, intrapessoais
e
de confiança no outro.
Os participantes também foram questionados sobre a existência de
dificuldades e/ou impedimentos para realizarem turismo de aventura. Frente ao
questionamento, Everaldo respondeu que não teve grandes dificuldades, porque os
instrutores passaram as informações para que ele se sentisse seguro.
Quando questionados se seria necessário alguma adaptação ou modificação
para facilitar a prática das modalidades praticadas, Mauro respondeu que no seu
entender todas as atividades foram bem planejadas e estruturadas. Disse que a
única dificuldade que sentiu foi realizar a prática do Arvorismo, uma vez que
era algo
novo para ele, que logo superou as dificuldades iniciais. João comentou que não
fora necessário nenhum tipo de adaptação, uma vez que o instrutor explicou muito
bem o que deveriam fazer. Tais procedimentos adotados por parte dos instrutores
fez com que ainda aumentasse a sensibilidade, a atenção e melhora da atividade
mental.
Ao ser indagado se as experiências vivenciadas promoveram formas de
encarar a vida, uma vez que é portadora de deficiência visual, Juliana respondeu
que se sentia muito feliz por praticar atividades de aventuras e por saber que
lhe
fazia tão bem. Disse a participante: “Se as pessoas soubessem o prazer e a
alegria
que isso nos dá, certamente não viveriam tão estressadas. Penso que mudar os
hábitos de vida também poderia ajudar e diminuir o estresse que tantas pessoas
sentem. Se sentir livres, se soltar sabendo que isso só faz bem e nos faz mais
confiantes poderia ser uma forma de motivação para enxergar a vida com outros
olhos. As coisas estão ao nosso alcance, nós é que às vezes nos fechamos para
elas”.
Estas informações atestam cada vez mais que o Turismo de Aventura também
pode ser praticado por pessoas com deficiência. Tal perspectiva fortalece a
posição
de que com determinação e força de vontade as barreiras sejam de que natureza
for
pode ser vencidas. As atividades de aventura, realizadas na natureza, estimulam
a
autossuperação, o trabalho em equipe, o desenvolvimento do equilíbrio corporal,
a
ampliação das capacidades coordenativas e de autorrealização das pessoas que
praticam estas atividades.
Enfim, o Turismo de Aventura é uma segmentação da atividade turística que
prioriza o contato com a natureza através de atividades físicas individuais ou
em
pequenos grupos e pode ser utilizada por pessoas portadoras de diferentes
deficiências, uma vez que os processos de segurança são determinantes para a
realização das atividades.
Atualmente, as atividades de aventura ainda não atendem a um contingente
grande de pessoas portadoras de deficiências. Por um lado, pela falta de
melhores
condições de acessibilidade, por outro, por falta de programas e projetos
voltados
para estes segmentos sociais. Para que os deficientes sejam inseridos na
atividade
turística, são fundamentais políticas públicas e adequação de equipamentos e
serviços turísticos para que os entretenimentos e lazeres para este público
sejam
ampliados.
Discussão e Interpretação
das Informações
Nesse segmento da dissertação, o propósito é discutir e interpretar as
informações com foco no problema, questões e objetivos da pesquisa, cotejando
com a literatura pertinente à temática. É importante realçar que a literatura
pertinente
ao turismo de aventura com deficientes visuais, ainda é muito limitada, uma vez
que
ainda são poucos os estudos realizados com essa clientela. Todavia, considerando
que o Alphen Park de Canela é um dos poucos lugares que oferece o Turismo de
Aventura como produto turístico e que aceitou o desafio da experiência, as
discussões ficam limitadas à experiência empírica realizada e ao reduzido número
de participantes de deficientes visuais.
Vygotski (1997) é enfático ao dizer que a fonte de compensação na cegueira
não é desenvolvimento do tato ou maior sutileza do ouvido, mas a linguagem, isto
é,
a utilização da experiência social, a comunicação com os videntes.
Quando questionados sobre as dificuldades de realizarem as atividades, o
posicionamento de Everaldo foi que não teve nenhuma grande dificuldade porque os
instrutores passaram as informações para que ele se sentisse seguro. Neste
sentido
também João fez o seguinte comentário: “nada, nada, não tive dificuldades. Está
tudo certo; O Fiorin explicou bem”.
Vygotski (1997) entendia que o desafio frente à cegueira deveria ser pautado
por três estratégias: a profilaxia social, a educação social e o trabalho social
para os
cegos uma vez que o problema se apresenta como sócio-psicológico, e não como
biológico ou de qualquer outra ordem. Sua opinião era que a ciência
contemporânea
deveria conceder aos cegos o direito ao trabalho social não em formas
humilhantes,
filantrópicas, mas em formas que respondam à autêntica essência do trabalho, uma
vez que essa é a única capaz de criar para a personalidade a necessária posição
social.
Pensando nesta mesma direção, a pesquisadora percebeu que o deficiente
visual não fica impedido da prática do turismo de aventura em face de
deficiência da
qual é portador. Esta forma de pensar fica evidente no depoimento de Everaldo
quando disse: o deficiente visual pode participar das atividades de aventura,
bastam
pequenas adaptações [...] a deficiência está na sociedade e não na pessoa. Os
relatos dos participantes portadores de deficiência visual reforçam a tese de
que o
turismo de aventura necessita de cuidados para evitar possíveis acidentes, seja
o
praticante vidente ou portador de deficiência visual. Esta questão ficou muito
evidente na pesquisa realizada.
De acordo com Vygoski (1997), cada ser humano percebe as coisas de forma
distinta. Os mesmos estímulos são captados de forma diferentemente entre cada
sujeito. Conforme o conceito de percepção, cada pessoa dá uma significação
diversa ao mesmo estímulo. Logo, se pode inferir que a prática do turismo de
aventura se sustenta nos cuidados que devem ser tomados para evitar acidente,
independente se o praticante é um vidente ou um portador de deficiência visual.
Todavia, existem outras variáveis que podem contribuir para alterar a
percepção. Uma delas, mencionada por Rodrigues (1979), diz respeito ao
preconceito que consiste em atitude negativa, aprendida, dirigida a um grupo
determinado. O preconceito, afirma o autor, não é inato, é condicionado.
Determinadas características de personalidade fazem com que a pessoa incorpore
preconceitos que não são sentidos por outras.
A opinião manifestada por Evandro, guia de turismo de aventura que interagiu
com os DV, vem ao encontro à forma de pensar de Rodrigues, quando diz que: “a
deficiência é a sociedade que nos coloca, que medo e impossibilidade de execução
é a sociedade que impõe, fruto da desinformação.”
No estudo de Dolci (2004), foi observado que os participantes entenderam que
tanto o Rafting quanto a Corrida de Aventura propiciam o contato com a natureza,
aspectos cada vez mais relevantes quando a análise recai sobre o “habitat” que
vive
o homem contemporâneo. O mesmo observou-se nesta pesquisa tomando como
evidência o depoimento de João quando questionado sobre a experiência vivida,
respondeu de maneira espontânea:
Bah, foi maravilhoso. Que sensação gostosa na Tirolesa, o vento batendo no
rosto e aquele cheirinho de mato úmido e molhado. Tinha que fazer de novo
para poder sentir melhor. Foi uma surpresa atrás da outra, dá até para
perceber os passarinhos passando perto da gente.
No trabalho de Dolci (2004), a pesquisadora constatou que com relação à
superação de desafios e busca de sensações difusas, sua pesquisa apontou que as
pessoas buscam nas atividades de aventuras superação dos limites pessoais. O
desafio como fator motivador, e superação das expectativas que os próprios
participantes têm de si mesmos. O mesmo foi constatado na experiência do turismo
de aventura com os deficientes visuais. Isto ficou evidente no comentário do
Mauro
quando disse: Apesar de a deficiência visual ser uma constante nas nossas vidas,
sempre se pode superar novos desafios.
Com semelhante percepção Bruno comentou:
Talvez se enxergasse teria mais medo de encarar essa experiência. Depois
desta linda e desafiadora experiência, me sinto mais capaz diante dos
obstáculos que tenho que superar. Ficou mais evidente a confiança em mim
mesmo. Isso tudo me abriu horizontes de possibilidades até então não
pensada por mim. Indico e recomendo para os amigos e quero a partir de
agora me tornar um praticante.
Egidio ao externar sua opinião, disse:
Sinto-me como se enxergasse de novo, pois a adrenalina é muito grande. Ao
final das atividades me senti muito bem comigo mesmo, a autoestima
aumentou muito. Só tenho a agradecer a estas pessoas que me
proporcionaram isto a um deficiente como eu.
No estudo de Dolci (2004), a Corrida de Aventura é sob a ótica da autora uma
afinidade entre os participantes, eles se identificam com seus pares formando
equipes. Finalmente a autora conclui que a atividade de aventura realizada em
grupo tem um forte elemento motivacional, de autoafirmação e pertencimento.
Este mesmo comportamento foi observado nos participantes deficientes visuais
que realizaram as atividades de aventura, embora os DVs realizassem as
atividades
individuais. O sentimento de pertencimento e motivação coletiva também aconteceu
com os DVs. Esta afirmação se evidencia na fala de Juliana quando disse: As
atividades de aventura fazem a gente ouvir os outros, encorajarem um ao outro,
dar
força e confiança ao grupo.
Embora o grupo de DVs tivesse vivenciado as atividades individualmente, o
sentimento de pertencimento e de motivação coletiva ocorreu. A fala entusiasmada
de um motivava e contagiava os outros a realizarem as atividades.
Dolci (2004) afirma que no espaço de aventura, o indivíduo se lança num duplo
processo de busca, por um lado, explora a natureza repleta de surpresas, por
outro,
se encaminha na direção de satisfazer a si mesmo, confortando seu mundo
interior.
Na prática do turismo de aventura, a pesquisadora diz que o objetivo principal é
a pessoa superar o medo. A pessoa necessita ter coragem, audácia, ousadia,
criatividade e flexibilidade e espírito solidário para encarar e superar os
obstáculos
com os quais se depara nas experiências.
Essas questões estão presentes no comentário feito por Juliana. Disse a
participante DV:
A atividade de aventura permitiu que a gente se sentisse livre, se soltasse,
sabendo que isso só faz bem e nos faz mais confiantes. Poderia ser uma
forma de motivação para enxergar a vida com outros olhos, as coisas estão
ao nosso alcance, nós é que às vezes nos fechamos para elas.
O estudo de Dolci (2004) foi realizado com videntes, mas o cenário foi o
turismo de aventura. Esse estudo utilizou o mesmo cenário, todavia, com
deficientes
visuais, e os achados reforçam as evidências que ambos os estudos produziram.
A pesquisa de Munster (2004) também tem relevância quando vista à luz deste
estudo, porque foi realizada com DVs e em atividades realizadas na natureza que
muito se assemelham ao estudo que realizamos – Turismo de Aventura e deficientes
visuais.
Segundo Munster (2004), frente à imprevisibilidade do ambiente natural, a
prática de esportes na natureza requer constantes ajustes da lógica interna do
praticante às condições do meio. O processo de adaptação motora a situações
inusitadas implicou em maior exigência das capacidades e habilidades físicas do
indivíduo, o que consistiu em significativas contribuições ao repertório motor e
possibilidades de ampliação do domínio corporal. Tais fatos implicaram em
benefícios no desenvolvimento motor da pessoa com deficiência visual, sobretudo
aos aspectos relacionados ao equilíbrio, locomoção e orientação espacial.
Há aderência do comentário de Munster (2004) ao depoimento de João quando
ele se refere à prática do Arvorismo:
É muito interessante quando se está começando a aprender uma trilha e
muda para outra. A atividade faz com que aumente a sensibilidade, a
atenção. Melhora a atividade mental, e a agilidade.
Munster (2004) comenta que não é preciso ser atleta ou possuir talentos
especiais para vivenciar esportes na natureza. Entende que a sua prática, quando
realizada segundo os princípios pedagógicos e normas básicas de segurança, pode
ser acessível a pessoas com deficiência visual. O mesmo observou-se no grupo que
realizou atividades no Alpen Park. Além de serem deficientes visuais,
constatou-se
que nenhum dos participantes tinha porte atlético, e mesmo assim isso não se
caracterizou como fator impeditivo na prática das atividades por eles
experimentada
por ocasião da experiência empírica.
Dolci (2004) também verificou que as atividades realizadas em grupos como
Raffting e Corrida de Aventura permitem uma intensa comunhão com a natureza,
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que é percebida de forma diferenciada proporcionando um sentimento de unidade e
respeito entre o corpo e o meio ambiente.
Munster (2004) concluiu que o desafio implícito na vivência de esportes na
natureza proporcionou autoconhecimento acerca dos limites e possibilidades
individuais, predispondo o praticante a modificações internas. O enfrentamento
de
adversidades inerentes a tais práticas conduziu ao sentimento de autossuperação
e
autorrealização, propiciando transformações nas relações intrapessoais, que
puderam ser estendidas à vida cotidiana de algumas das pessoas com deficiência
visual envolvidas naquela pesquisa.
Essas questões também se mostraram evidentes no estudo que realizamos. A
evidência aparece no relato de Bruno aos seus familiares. Disse o participante:
Percebi a curiosidade das pessoas pelo turismo de aventura, e o comentário deles
era: se ele (cego) pode, eu também posso.
Nesta mesma linha, João relatou o seguinte: senti-me importante, tenho
assunto para contar, falar coisas diferentes que muita gente que vê, não tem
coragem de fazer.
Everaldo, ao ouvir João falar, complementou dizendo que a experiência
vivenciada elevou sua autoestima e confiança. Disse também:
Percebi que posso vencer as barreiras da vida e que quando encaradas se
tornam muito menores. Como no caso do turismo de aventura, que é muito
prazeroso e mais seguro do que se pensa inicialmente. Graças à experiência
sou mais feliz e me sinto mais integrado e atuante no meio social.
Os depoimentos dos participantes da pesquisa colocam de manifesto que o
turismo de aventura não é apenas mais uma alternativa aos portadores de
deficiência visual, mas, sobretudo, é uma atividade que contribui de forma
significativa para aumento da autoestima e do autoconhecimento, permitindo que
os
portadores de DV se superem e tenham oportunidades de experimentar sentimentos
e sensações que a priori são oferecidas aos videntes.
Considerando os sujeitos do estudo e o contexto que foi investigado, o
problema que se apresentava era: Qual a percepção pessoal do deficiente visual
quando pratica turismo de aventura nas modalidades de arvorismo, escalada, rapel
e tirolesa?
Verificou-se que para a prática das modalidades de turismo de aventura
estudadas, não houve a necessidade de adequações especiais de infraestrutura
para os deficientes visuais realizarem as atividades.
Todavia, a prática das atividades de aventura com deficientes visuais
necessitou de uma adequação de comunicação das informações, o que não se faz
necessário quando o praticante é vidente. A prática das atividades de aventura
com
deficientes visuais requer explicações mais detalhadas e contatos táteis com os
equipamentos, para que cada participante possa formar imagem mental.
Na prática do Arvorismo, especificamente, os gestores da operadora acharam
por bem colocar um guia para cada Dv. Este procedimento foi mais uma estratégia
de segurança da operadora, uma vez que tanto os Dvs quanto a empresa não
haviam tido experiências anteriores nesta modalidade. Após a realização da
atividade, tanto os Dvs participantes, quanto os guias, concluíram que não havia
necessidade para tal medida.
Sentimentos de realização, prazer, alegria, companheirismo e elevação da
autoestima foram sensações expressadas pelos participantes, tanto pelos
portadores de deficiência congênita como adquirida.
Na percepção dos turistas deficientes visuais a prática do Turismo de Aventura
é uma relevante alternativa de lazer e de desenvolvimento intra e interpessoal,
tendo
reflexos positivos no cotidiano dos portadores de deficiência visual. O fato de
terem
contato com a natureza e praticarem atividades tidas como difíceis e perigosas
para
o senso comum, geram neles um sentimento de capacidade de realização, de
melhoria da autoestima, e a possibilidade de participar de forma integrada com
videntes desta modalidade de turismo.
Importante também destacar que dentro dos segmentos do turismo, o
deficiente visual participa sempre como sujeito passivo, portanto há sempre um
intérprete entre o DV e o atrativo, pois em sua maioria os estímulos do turismo
são
na sua maioria visuais.
Finalmente, considerando o resumido número de participantes portadores de
deficiência visual que participaram da pesquisa, que não deixa de ser uma
limitação
do estudo, o Turismo de Aventura, como um segmento turístico, mostrou-se como
alternativa turística positiva aos deficientes visuais, uma vez que na
realização das
atividades, o portador é um sujeito ativo, no sentido em que desfruta das
emoções e
sentimentos por si só, sem a necessidade de um interlocutor.
FIM
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excerto de
TURISMO DE AVENTURA E A DEFICIÊNCIA VISUAL
autora:
Denise Holleben
Dissertação de Mestrado em Turismo
Universidade de Caxias do Sul
Caxias do Sul, 2009
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