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 Sobre a Deficiência Visual

Internet para Necessidades Especiais

- Perguntas e Respostas -

Francisco Figueiredo

imagem: capa de INTERNET PARA NECESSIDADES ESPECIAIS de Francisco Figueiredo

 

O QUE SIGNIFICA INTERNET PARA NECESSIDADES ESPECIAIS?

Um grande número de pessoas com necessidades especiais têm manifestas limitações ao nível motor, da visão, da audição, da fala, da concentração, memorização, leitura ou percepção (paralisias, amputações, dificuldade de controlo dos movimentos, cegueira, surdez, etc.) que os inibem ou impossibilitam de utilizar plenamente as potencialidades deste meio de comunicação.

Uma "Internet para necessidades especiais" baseia-se na concepção de equipamentos, software e conteúdos (por exemplo a Web e o correio electrónico) com características de acessibilidade para pessoas com necessidades especiais.

Embora se debruce, geralmente, sobre utilizadores com limitações físicas ou sensoriais, o conceito não se limita a estas questões. Por exemplo: utilizadores que possuem modems mais lentos e que decidam desactivar a apresentação de gráficos encontram dificuldades similares às sentidas por pessoas com limitações de visão. As soluções encontradas para acrescentar legendas, destinadas aos utilizadores surdos, podem permitir utilizar índices de texto na busca de documentos de vídeo e de áudio.


QUE OPORTUNIDADES OFERECE A INTERNET A CIDADÃOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS?

A acessibilidade às tecnologias de informação e comunicação deve ser considerada como um factor de qualidade de vida a que todos têm direito. Para a maioria das pessoas a tecnologia torna a vida mais fácil. Para uma pessoa com necessidades especiais, a tecnologia torna as coisas possíveis.

O precário acesso à informação e a serviços de telecomunicações, as barreiras arquitectónicas e a escassez de transportes públicos adaptados têm constituído um dos mais sérios obstáculos à integração escolar, profissional e social dos cidadãos com necessidades especiais, limitando o seu acesso à equiparação de oportunidades a que, inegavelmente, têm direito.

A utilização de um computador e o acesso à Internet permitem a estes cidadãos (sem dúvida aqueles que são confrontados com os maiores obstáculos, tanto físicos como de ordem social) acederem a um conjunto imenso de fontes de (in)formação, estabelecerem contactos e trocarem informações, exercerem uma actividade, encontrarem formas alternativas de lazer e de divertimento, aumentarem as suas relações de amizade, em suma, construírem uma vida com significado.


QUAL É A PERCENTAGEM DE CIDADÃOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS ?

As pessoas idosas e com deficiência constituem uma elevada percentagem da população mundial. Estes dois segmentos da população estão fortemente correlacionados em termos de necessidades especiais. Nos Países da União Europeia, o número de pessoas idosas e/ou com deficiência situa-se entre 60 e 80 milhões de pessoas. Este número está a crescer e estima-se que no ano 2020 uma em cada quatro pessoas (25%) se encontre nesta situação!

Em Portugal, a taxa de população portadora de deficiências ronda os 9,16%:

Visão - 135.428; Audição - 115.066; Fala - 66.778; Outras formas de Comunicação - 87.665; Cuidado Pessoal - 130.801; Locomoção -357.495; Tarefas Diárias - 106.870; Face a Situações - 418.889; Comportamento - 199.525.


O QUE É A ACESSIBILIDADE?

A Acessibilidade que defendemos envolve três noções: "Utilizadores", "Situação" e "Ambiente":

  • O termo "Utilizadores" significa que nenhum obstáculo é imposto ao indivíduo face às suas capacidades sensoriais e funcionais.

  • O termo "Situação" significa que o sistema é acessível e utilizável em diversas situações, independentemente do software, comunicações ou equipamentos.

  • O termo "Ambiente" significa que o acesso não é condicionado pelo ambiente físico envolvente, exterior ou interior.

A acessibilidade da Internet caracteriza-se pela flexibilidade da informação e interacção relativamente ao respectivo suporte de apresentação. Esta flexibilidade permite a sua utilização por pessoas com necessidades especiais, bem como a utilização em diferentes ambientes e situações, e através de vários equipamentos ou navegadores.


QUAIS SÃO OS CONSTRANGIMENTOS NO ACESSO À INTERNET?

Utilizadores

Problemas sentidos por utilizadores com vários tipos de limitações:

1 - Os utilizadores cegos poderão ter dificuldade em:

  • obter informações apresentadas visualmente;

  • interagir usando um dispositivo diferente do teclado (como o rato, por exemplo);

  • distinguir rapidamente as ligações num documento;

  • navegar através de conceitos espaciais;

  • distinguir entre outros sons uma voz produzida por síntese.


2 - Os utilizadores amblíopes ou daltónicos poderão ter dificuldade em:

  • distinguir diferenças cromáticas, de contraste ou de profundidade;

  • utilizar informação dependente das dimensões;

  • distinguir entre diferentes tipos de letra;

  • localizar e/ou seguir ponteiros, cursores, pontos activos e locais de recepção de objectos, bem como manipular directamente objectos gráficos.


3 - Os utilizadores com dificuldades de audição poderão ter dificuldade em:

  • distinguir alterações de frequência;

  • ouvir certas gamas de frequências;

  • localizar sons;

  • identificar sons específicos entre o ruído de fundo.


4 - Os utilizadores surdos poderão ter dificuldade em:

  • aperceber-se de informações auditivas;

  • produzir fala reconhecível como sendo um sinal vocal;

  • utilizar o inglês como segunda ou terceira língua (visto a linguagem gestual ser a primeira língua das pessoas que tenham nascido surdas).


5 - Os utilizadores com limitações motoras poderão ter dificuldade em:

  • carregar simultaneamente em várias teclas (fraca coordenação de movimentos)

  • carregar em teclas enquanto movem o rato;

  • deslocar os membros ou tentar alcançar objectos;

  • executar acções que impliquem precisão ou rapidez.


6 - Os utilizadores com problemas de concentração, memorização, leitura ou percepção poderão ter dificuldade em:

  • ler sem ouvir o texto lido em voz alta (dislexia);

  • executar algumas tarefas no espaço de tempo requerido;

  • ler e compreender as informações existentes;

  • perceber qual a função de um objecto gráfico sem legenda.


7 - Os utilizadores com múltiplas limitações poderão deparar-se com:

  • soluções que criam novas barreiras a um tipo diferente de limitação


Situação

Problemas relacionados com software, comunicações ou equipamentos:

- compatibilidade com navegadores;

- utilização de comunicações lentas;

- utilização de equipamento sem saída audio;

- compatibilidade com monitores e resolução de ecrã;

- utilização de vários equipamentos (sem monitor e/ou sem rato, por exemplo);

- utilização de impressoras monocromáticas.


Ambiente

Problemas relacionados com o ambiente físico envolvente, exterior ou interior:

- utilização em ambientes ruidosos;

- utilização em ambiente interior/exterior com muita luminosidade.


A ACCESSIBILIDADE IMPÕE LIMITES AO DESENVOLVIMENTO DA INTERNET?

A adopção de técnicas de acessibilidade na concepção das páginas e aplicações para a Internet não são limitações, antes pelo contrário, estas tornam-nas mais robustas, flexíveis, rápidas e fáceis de usar para a generalidade dos utilizadores. Permitem também a utilização de equipamentos menos convencionais para o acesso à Internet como a televisão, o telefone e equipamentos electrónicos de bolso, bem como a utilização de equipamentos mais antigos. Estas técnicas permitem ainda um aumento na indexação e divulgação de páginas e conteúdos nos motores de pesquisa (cusco, altavista, yahoo, etc.).


QUAL É O OBJECTIVO DAS DIRECTIVAS DE ACESSIBILIDADE DO GUIA E DO W3C ?

Melhorar a acessibilidade da informação disponível na Internet, sem prejudicar o seu aspecto gráfico ou funcionalidades. A sua aplicação deve permitir:

  1. a respectiva leitura possa ser feita sem recurso à visão, movimentos precisos, acções simultâneas ou a dispositivos apontadores, designadamente ratos;

  2. a obtenção da informação e a respectiva pesquisa possam ser efectuadas através de interfaces auditivos, visuais ou tácteis.


QUEM VAI BENEFICIAR COM ESTAS DIRECTIVAS?

Os utilizadores da Internet, nomeadamente:

  • Pessoas com deficiências (visuais, auditivas, motoras e outras)

  • Idosos

  • Pessoas que consultam a Internet:
    - com modems ou ligações lentas;
    - com equipamentos portáteis (ex: agendas electrónicas ou outros assistentes digitais);
    - com equipamentos sem saída audio;
    - via audiotexto (consulta da web/email usando equipamento telefónico);
    - em quiosques públicos

  • As entidades e particulares que disponibilizam informação na Internet:

Pois aumenta substancialmente o número de utilizadores que conseguem ter acesso à sua informação.


A IMPLEMENTAÇÃO DA ACESSIBILIDADE É DIFÍCIL E CARA ?

Dificuldades na concepção: A acessibilidade resume-se à adopção de uma redundância parcial da informação, principalmente ao nível dos "caminhos" para os conteúdos; sendo estes últimos, na sua esmagadora maioria, acessíveis. O tempo necessário para introduzir técnicas de acessibilidade na concepção de uma página poderá atingir aproximadamente 5% do tempo gasto para escolher uma apresentação visual agradável. Esta percentagem poderá ser superior no caso da utilização de vídeo e áudio, o que ainda é pouco frequente.

Dificuldades na adaptação: Se a concepção de uma página acessível para a Internet não acarreta praticamente custos adicionais, o mesmo não se pode dizer em relação ás já existentes. As dificuldades e os encargos de adaptação estão directamente relacionados com a complexidade e tamanho de cada sítio. De qualquer maneira, as actualizações periódicas da informação poderão ser aproveitadas para "concertar" as páginas.

Custos em equipamentos e software: Para conceber uma página ou aplicação para a Internet acessível a pessoas com necessidades especiais não é necessário adquirir equipamento ou programas adicionais.

Custos de aprendizagem: Existem na Internet várias ajudas para a auto-aprendizagem e para a organização de formação: documentos públicos contendo exemplos práticos e claros de técnicas para a acessibilidade; cursos online; utilitários gratuitos (software) que diagnosticam e sugerem alterações automaticamente; bem como vários grupos voluntários de suporte.


QUEM DEVE USAR ESTAS DIRECTIVAS?

Estas directivas deverão ser usadas pelos responsáveis pelo desenvolvimento de conteúdos na Internet.


AS DIRECTIVAS SÃO OBRIGATÓRIAS EM PORTUGAL?

Não. No entanto, Portugal é o primeiro país europeu com regulamentação sobre acessibilidade dos sítios da administração pública na Internet pelos cidadãos com necessidades especiais (Resolução de Conselho de Ministros Nº 97/99 - publicado no Diário da República Nº 199, I Série B, em 26/08/1999). URL: http://www.mct.pt/novo/legislacao/despachos/cneinter.htm


ONDE ENCONTRAR EXEMPLOS?

Actualmente existem vários documentos que propõem regras de acessibilidade para a Web, alguns deles contendo exemplos práticos. Sugerimos a consulta dos seguintes:

Directivas para a acessibilidade do conteúdo da Web - 1.0, do W3C*

http://www.utad.pt/wai/wai-pageauth.html

Requisitos de Acessibilidade do GUIA (Portugal)

http://www.acessibilidade.net

Web Frontiers - access & equity online (Austrália)

http://www.lawlink.nsw.gov.au/aus/access.html

IBM: Web Accessibility for Special Needs *

http://www.austin.ibm.com/sns/accessweb.html

Microsoft Accessibility guidelines for the WWW *

http://www.microsoft.com/enable/dev/web/guidelines.htm

* Inclui exemplos práticos


QUE METODOLOGIA USAR?

  1. Implemente as directivas de acessibilidade.

  2. Teste a acessibilidade da informação.

  3. Faça as correcções necessárias, e volte a testar.

  4. Forneça formas alternativas para consultar a informação não acessível.

  5. Coloque o Símbolo de Acessibilidade na página de entrada do seu sítio.


COMO TESTAR A ACESSIBILIDADE?

Pode testar a acessibilidade de uma página ou de um sítio, por exemplo:

  • usando ferramentas ou serviços de análise da acessibilidade e compatibilidade (ex: Bobby http://www.cast.org/bobby)

  • visualizando a(s) página(s) em várias condições/ambientes com:

  • imagens activas/inactivas;

  • audio ligado/desligado;

  • diferentes navegadores (ex: browsers de texto, com síntese de voz, etc);

  • diferentes resoluções gráficas;

  • usando apenas o teclado para navegar ou interagir;

  • usando utilizadores reais.


COMO IDENTIFICAR UM SÍTIO ACESSÍVEL?

Um globo inclinado, com uma grelha sobreposta. Na sua superfície está recortado um buraco de fechadura

Utilize o Símbolo de Acessibilidade na Web para indicar que o sítio contém funcionalidades de acessibilidade para cidadãos com necessidades especiais, para diferentes ambientes, situações, equipamentos e navegadores. O símbolo deve incluir a definição ALT="Símbolo de Acessibilidade na Web", e ser colocado na página de entrada do sítio.

Recomendamos que acompanhe o símbolo da sua respectiva descrição ("Um globo inclinado, com uma grelha sobreposta. Na sua superfície está recortado um buraco de fechadura"), através de uma ligação D.


O SÍMBOLO GARANTE A ACESSIBILIDADE TOTAL?

A afixação do Símbolo de Acessibilidade não garante que um sítio seja 100% acessível, nem o cumprimento das directivas de acessibilidade . A utilização deste Símbolo é um acto voluntário que demonstra, unicamente, um esforço em aumentar a acessibilidade de um sítio.  [INLINE] [INLINE]


SÍMBOLO DE ACESSIBILIDADE NA WEB

Símbolo de Acessibilidade na Web

Utilize o Símbolo de Acessibilidade na Web para indicar que o sítio contém funcionalidades de acessibilidade para cidadãos com necessidades especiais, para diferentes ambientes, situações, equipamentos e navegadores. O símbolo deve incluir a definição ALT="Símbolo de Acessibilidade na Web", e ser colocado na página de entrada do sítio.

Recomendamos que acompanhe o símbolo da sua respectiva descrição ("Um globo inclinado, com uma grelha sobreposta. Na sua superfície está recortado um buraco de fechadura"), através de uma ligação D.

A afixação do Símbolo de Acessibilidade não garante que um sítio seja 100% acessível, nem o cumprimento das Regras de Acessibilidade. A utilização deste Símbolo é um acto voluntário que demonstra, unicamente, um esforço em aumentar a acessibilidade de um sítio.

O símbolo de Acessibilidade é propriedade do CPB/WGBH National Center for Accessible Media (NCAM) e sua reprodução e utilização é livre. Podem encontrar várias versões deste símbolo em:

http://www.wgbh.org/wgbh/pages/ncam/currentprojects /symbolwinner.html

 

Requisitos de Acessibilidade do GUIA

A aplicação destes procedimentos (regras) a formas de escrita e de apresentação de páginas e aplicações na Internet destinam-se a assegurar que:

a) a respectiva leitura possa ser feita sem recurso à visão, movimentos precisos, acções simultâneas ou a dispositivos apontadores, designadamente ratos;

b) a obtenção da informação e a respectiva pesquisa possam ser efectuadas através de interfaces auditivos, visuais ou tácteis.


As Regras devem ser aplicadas somente à informação considerada relevante para a compreensão da navegação e/ou conteúdos. As Regras iniciadas com "Se possível, ..." são recomendações. Todas as restantes Regras são obrigatórias.


Apresentação da Informação

Imagens

Fornecer descrição textual.

Fornecer equivalente textual para a informação apresentada nos gráficos.

Audio

Fornecer descrição textual.

Se possível, fornecer transcrição textual e/ou legendas.

Facilitar a interrupção da legendagem e de sons automáticos/repetitivos.

Animações ou Vídeos

Fornecer legendas, descrições e/ou transcrições.

Mostrar a legendagem na mesma página da animação ou vídeo.

Se possível, fornecer descrições audio.

Objectos executáveis

Fornecer descrição sobre o seu objectivo ou modo de funcionamento.

Fornecer alternativas se o objectivo não for acessível.

Informação dinâmica

Fornecer uma versão estática.

Permitir interromper ou parar: objectos e páginas de actualização automática, movimentos ou efeitos de piscar.

Cores

Garantir um bom contraste entre a cor do texto e o fundo.

Permitir que a cor do texto, ligações e fundo possa ser alterada.

Garantir que os textos e gráficos mantêm a legibilidade e significado quando observados sem cores.

Disposição da informação

Se possível, permitir que a disposição da informação possa ser reestruturada.

Atribuir nomes descritivos e consistentes à estrutura e elementos da página.

Contactos

Fornecer uma forma simples e óbvia para contactar a pessoa da organização responsável pela informação e o(s) administrador(es) do sítio.

Fornecer o endereço, telefone e fax da organização.

Navegação

Ligações

Garantir que as ligações textuais são palavras ou expressões compreensíveis fora do contexto.

Fornecer equivalente textual das ligações embutidas em objectos.

Interacção

Permitir a activação dos elementos da página através do teclado.

Orientação

Identificar claramente a localização actual do utilizador na estrutura da informação.

Colocar os objectos interactivos e ligações numa ordem lógica que permita uma navegação clara e compreensível através do teclado.

Fornecer uma ligação para a página de entrada do sítio, em todas as páginas.

Fornecer índice do conteúdo em sítios complexos.

Conformidade

Verificar a acessibilidade e validar a codificação seguindo standards actuais e ferramentas de diagnóstico.

Os sítios da Internet que satisfaçam os requisitos de acessibilidade referidos deverão indicá-lo de forma clara, através de símbolo na página de entrada a que reconhecidamente seja associada essa característica.


Glossário

Gráficos: imagens contendo informação quantitativa ou qualitativa (como gráficos de barras ou tarte).

Objectos executáveis: objectos que podem ser manipulados para dar acesso à informação ou produzir resultados.

Informação dinâmica: informação que é actualizada após uma interacção ou período de tempo.
 

 

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'Perguntas e Respostas' - excerto de
INTERNET PARA NECESSIDADES ESPECIAIS
Francisco Figueiredo
Esta secção é baseada no Guia de Acessibilidade proposto pelo GUIA (Grupo Português pelas Iniciativas em Acessibilidade) na petição pela acessibilidade da Internet Portuguesa.
fonte da obra integral: http://www.acessibilidade.net/web/ine/livro.html
 

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25.Mai.2016
publicado por MJA