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Ulisses e o Gigante de um só OlhoPhilip Ardagh
Ulisses e alguns dos camaradas entraram numa caverna onde descansaram e se abrigaram. Era a casa de um ciclope chamado Polifemo, que era um dos filhos de Posidon, deus do mar. Ao fim do dia, o gigante de um só olho regressou com o rebanho. Depois de as ovelhas estarem em segurança dentro, a enorme e hedionda criatura tapou a entrada da caverna com uma pedra imensa. Era de tal maneira grande e pesada que nenhum ser humano nem nenhuma equipa de humanos ― podia ter pretensões a movê-la. Ulisses e os seus homens estavam encurralados. Avistando os aterrados humanos, o ciclope Polifemo agarrou em dois dos companheiros de Ulisses e engoliu-os inteiros. Na manhã seguinte, comeu mais dois, e depois afastou a pedra para as ovelhas saírem. Não conseguia acreditar na sua sorte: tinha uma despensa cheia de humanos! ― Como é que te chamas, homenzinho? ― perguntou o gigante, ao sair da caverna e ao começar a rolar mais uma vez a pedra para a entrada da caverna. ― És um desses heróis de que tanto ouço falar? ― Eu, um herói? ― gargalhou Ulisses. ― Sou um ninguém. ― E então começou a formar-se-lhe uma ideia na mente. ― De facto, o meu nome é Ninguém. ― Os meus cumprimentos, Ninguém. Estou ansioso por te comer quando voltar ― sorriu o ciclope, quando o gigantesco penhasco tapou o sol. Nessa noite, Polifemo regressou com as ovelhas e,
enquanto Ulisses observava impotente, agarrou em mais dois homens e
comeu-os. A seguir o ciclope bebeu um
pouco de vinho, e caiu num sono profundo.
Ulisses não perdeu tempo. Agarrou num enorme poste de madeira, que tinha escondido nas sombras, aqueceu a ponta no fogo e depois trepou para o peito do gigante adormecido. Com toda a sua força, enterrou o poste no único olho de Polifemo. O gigante berrou, suficientemente alto para atrair os outros ciclopes à entrada da caverna. ― Estás bem, Polifemo? ― gritou um deles, através da rocha que tapava a entrada. Não a queria afastar, não fosse dar-se o caso de Polifemo estar apenas a ter um pesadelo... e não lhe achar graça nenhuma se as ovelhas lhe fugissem todas por dá cá aquela palha! ― Estás a ser atacado? ― perguntou outro ciclope, sabedor de que se tinham avistado estranhos na ilha. Lembrando-se do nome que Ulisses lhe dera, Polifemo gritou: ― Ninguém está a magoar-me! Interpretando erradamente os berros de Polifemo, e contentes por ele não estar em perigo os outros ciclopes regressaram para os seus lugares da ilha. ― Ninguém está a magoar-me! ― berrou o ciclope, à espera de socorro.
Vou deixar as minhas ovelhas pastar uma a uma, Ninguém ― declarou. Mas tu e os teus homens ficam cá até eu me decidir a comer-vos. Não preciso de ver para comer; basta-me um apetite sadio e uns dentes aguçados. À medida que cada ovelha passava através da fenda na entrada da caverna, Polifemo apalpava-lhe a lã para verificar se se tratava realmente de uma ovelha e não de um humano a tentar escapar-se-lhe. Tal não foi a sua surpresa ao ouvir a voz de Ulisses do exterior da caverna. ― Devias ter pensado em apalpar debaixo das ovelhas ― bramiu ele. Prendemo-nos às barrigas delas. Só para ter a certeza de que o ciclope sabia quem é que o tinha excedido em astúcia, acrescentou: ― E podes crer que não sou nenhum ninguém. Chamo-me Ulisses. Nunca te esqueças! MITO ou LENDA?
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